Finanças comportamentais: #8 – Quais os seus limites? O otimismo irreal nas decisões

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Ao ler o primeiro trecho do artigo de Weinstein (1980), talvez algumas pessoas pensem que se trata de algo simplesmente escrito há mais de quarenta anos e, por isso, não se aplica aos dias de hoje. Outras, podem pensar que parece que foi algo escrito nos tempos atuais. E o que ele escreveu no citado trecho? Que as pessoas tendem a se achar invulneráveis e que elas esperam que eventos ruins aconteçam apenas com os outros e nunca com elas próprias. Uma evidência disso nos dias de hoje está no fato de muitas pessoas se exporem ao risco de contrair a Covid-19, pelo fato de acharem que são imunes ou que isso só poderia acontecer com outras pessoas. Logo, muitas pensam, “para que máscaras e distanciamento social”?

As ponderações que se podem extrair do estudo de Weinstein (1980) estão longe de ficarem restritas apenas a contextos de saúde. No mundo dos investimentos, é comum as pessoas atribuírem ao futuro uma expectativa positiva que se aproxima do que o referido autor denomina de “otimismo irreal” (unrealistic optimism). Como o futuro “a Deus pertence”, é muito difícil afirmar que alguém está sendo excessivamente otimista quanto ao que está por vir. Contudo, o que se pode ponderar é o quanto as expectativas pessoais estão afinadas com a média para uma população em condições semelhantes.

Por exemplo, se alguém acredita que pode ficar rica com aplicações de altíssimo risco no mercado financeiro, por que a grande maioria das pessoas que faz operações semelhantes não está milionária? Em outras palavras, por que se espera que resultados efetivamente bons podem acontecer consigo e aqueles muito ruins só podem acontecer com os outros? Quem assim pensa pode estar contaminado com o viés do excesso de otimismo.

Ora, mas ser otimista é bom, correto? Há, inclusive, quem diga que o custo de pensar de forma otimista ou pessimista é o mesmo. Logo, é preferível pensar positivo. Faz sentido, exceto quando esse otimismo sai da faixa da razoabilidade e coloca o sujeito em um ambiente de risco muito acima do que ele pode suportar, caso as coisas deem errado. Por isso, por mais otimista que se esteja, é recomendável assumir posições defensivas contra eventos adversos.

Em um artigo que escrevi em parceria com colegas (Braga et al., 2015), foi solicitado a 106 participantes voluntários que eles informassem quanto, no máximo, estariam dispostos a perder, assim quanto, no mínimo, estariam dispostos a ganhar em um investimento no mercado de ações antes de vender seus papéis. Os participantes sinalizaram perdas suportáveis de até pouco menos de 12% e informaram querer ganhar ao menos 21,95%. No entanto, os resultados mostraram perdas obtidas de mais de 5 vezes o limite suportável e ganhos, praticamente, na faixa desejada.

O que faz alguém definir que suporta perder no máximo um valor e aceitar, na prática, perdas tão maiores? Exatamente, o excesso de otimismo. Por esse viés, elas acreditam que as perdas serão recuperadas a qualquer momento, por uma esperança irreal (vide o estudo de Weinstein, 1980) de que as coisas irão melhorar a qualquer momento, por mais que a realidade mostre o contrário. Existe, adicionalmente, ao excesso de otimismo outros vieses. Dentre eles, a aversão ao arrependimento e algo que podemos simplesmente chamar de teimosia, mesmo.

Você conhece o ditado “dou um boi para não entrar em uma briga e uma boiada para não sair”? Esse ditado mostra bem o que se apresenta como a citada teimosia. Para não sair perdendo ou não mostrar “fraqueza”, as pessoas tardam a tomar decisões de perdas, perdendo ainda mais. No citado estudo (Braga et al., 2015) foram dadas várias oportunidades para que os participantes pudessem vender suas ações. Essa decisão poderia estancar as perdas, mas muitas pessoas simplesmente seguiram acompanhando a queda dos preços e não tomou a decisão de venda, o que as fizeram perder mais do que suportariam, conforme declararam inicialmente.

Tomar decisões de perdas, de fato, não é algo simples. Contudo, entender que nem sempre os resultados serão aqueles desejados e que as perdas fazem parte do processo decisório, em qualquer contexto da vida, é algo essencial para que se possa evoluir rumo aos resultados positivos. Isso vale não apenas no mundo dos investimentos, mas também nos estudos e na carreira profissional, por exemplo.

É preciso ser ponderado ao se fazer previsões sobre o futuro e considerar que resultados ruins podem ocorrer e quais os limites de perdas que se suportam. Um lutador que esteja perdendo uma luta e não reconheça a derrota, pode morrer no ringue. Um profissional que não assume que está tendo dificuldades com um projeto ou que precisa de ajuda para fechar uma entrega, poderá não só perder o prazo, como a reputação (muito mais cara do que o reconhecimento de eventuais limitações). Entender que o reconhecimento e o respeito aos próprios limites não é fraqueza, mas sim uma grande força interna é essencial para lidar com decisões que envolvem o “jogar a toalha”.

A arrogância e a prepotência podem ser cruéis em um ambiente de incertezas ou de adversidades em relação ao que se esperava. Porém, é preciso considerar que nem sempre são esses elementos nefastos que estão fazendo alguém insistir em algo que não trará resultados satisfatórios, mas simplesmente a cegueira trazida pela ilusão do excesso de otimismo. Parar e ponderar com tranquilidade o ambiente, é como aquele momento em que se respira fundo para manter a calma. Outro bom suporte para evitar os riscos do excesso de otimismo é conversar com alguém experiente sobre aquele assunto ou decisão que está sendo considerada. Isso tudo poderá ajudar a separar o otimismo realista da euforia ingênua.

E você, costuma ser muito otimista com seus projetos? Otimismo realista ou excessivo? E os limites para decidir pelo abandono ou realização de um projeto? Enfim, enquanto pensa a respeito, que tal continuar acompanhando nossos artigos? Até a nossa próxima publicação e boas decisões para você!

 

Robson Braga
Sócio-fundador da BR2 Consultoria Empresarial
Professor de Finanças da Universidade do Estado da Bahia

 

  • Braga, R., de Lima, G. A. S. F., & De Luca, M. M. M. (2015). Evaluation of Investor Behavior: Do Investors Respect their Own Limits? Contabilidade Vista & Revista25(1), 59-73.
  • Weinstein, N. D. (1980). Unrealistic optimism about future life events. Journal of personality and social psychology39(5), 806.

Redação BR2

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